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O Protocolo do Perdão: Como a Comunicação de Casais Pode Salvar seu Relacionamento

É quase irônico, mas também profundamente revelador, ler esta passagem bíblica que descreve um verdadeiro protocolo do perdão. Para a primeira comunidade cristã, era a maneira de gerir as tensões e problemas inevitáveis da convivência. Com a experiência de um terapeuta de casais, este evangelho de Jesus é mais do que uma regra; é um manual de comunicação e unidade para todos que buscam salvar o relacionamento de suas próprias falhas.

A primeira e mais libertadora lição é a aceitação do erro. “Se o teu irmão peca”, diz o texto, o que significa que o pecado, ou a falha, não é uma surpresa. Nós somos uma “comunidade de pecadores perdoados” que, apesar de tudo, continuam a errar enquanto caminham rumo à maturidade. Em um casamento, isso se traduz na humildade de reconhecer que ambos os parceiros são imperfeitos. Não há necessidade de fingir espanto ou de se deixar escandalizar quando o outro falha. A aceitação desta realidade é o primeiro passo para o perdão.

O protocolo, então, se desdobra em três passos que se assemelham a um roteiro terapêutico:

  1. O Diálogo a Sós: “Se alguém peca, chame-o à parte, entre você e ele, sem o humilhar.” Este é o cerne da comunicação de casais. Não se trata de uma acusação pública ou de uma briga explosiva, mas de um diálogo privado, mediado pela humildade e pela vulnerabilidade. O objetivo não é vencer um debate, mas manifestar genuíno interesse e afeto, e buscar entender a dor e a dificuldade do outro. A ação de se aproximar sem agredir é o primeiro e mais importante gesto de amor.
  2. O Envolvimento de uma Testemunha: “E se ele não ouvir, chame outra pessoa.” Quando a comunicação direta falha, a sabedoria nos convida a buscar a ajuda de um mediador de confiança. Um amigo maduro, um líder espiritual ou um terapeuta de casais pode ser o “outro” que ajuda a traduzir sentimentos e a reabrir os canais de diálogo que pareciam fechados. A mediação não é para tomar partido, mas para criar um espaço seguro onde o perdão possa brotar.
  3. O Apelo à Comunidade: “E se mesmo assim não ouvir, envolva a comunidade.” Em casos extremos, a comunidade mais ampla — a família, um grupo de amigos, a igreja — pode ser chamada a intervir. Não para julgar, mas para testemunhar o valor do relacionamento e para reforçar a esperança de reconciliação. A ação da comunidade é um lembrete de que o casamento não é uma ilha, mas um projeto que pertence a um corpo maior de amor e apoio.

Mas o que acontece se, após todos esses passos, a pessoa ainda se fecha, rejeitando a comunicação e o perdão? O texto de Jesus nos diz para considerá-lo “como um pagão”. Longe de ser uma condenação, é um convite para uma ação ainda mais radical. Considerar o outro como “pagão” significa que ele se tornou tão distante da linguagem do amor que precisa ser re-evangelizado.

A indiferença e a fofoca não têm lugar aqui. O amor nunca desiste. Para salvar o relacionamento, um dos parceiros deve estar disposto a recomeçar toda a missão, de se aproximar da pessoa amada como se ela nunca tivesse conhecido o amor do outro, mostrando-lhe, com paciência e ternura, o valor da união. É o último ato de humildade e doação de si mesmo, um amor que não se cansa de se dar e de tentar construir pontes para a unidade.

 

Dr. Fernando Tadeu

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